Cozinhar: a prática da arte afetiva como “hobby” (Receita BÔBUS no final)
- drmarcelomorenomkt
- 15 de jan.
- 4 min de leitura
Momentos em que nos dedicamos a algo que amamos, longe das obrigações do dia a dia, costumam ser chamados de “hobby”. Quando existem várias paixões, como no meu caso, essa definição se multiplica. É interessante como algo que começa apenas como uma fonte de alegria pode, às vezes, tomar outros rumos e se transformar em um empreendimento. Nessas horas, surgem metas e responsabilidades, e aquele prazer simples pode se perder. Encontrar o equilíbrio nem sempre é fácil, ainda mais no ritmo frenético que vivemos. Já compartilhei aqui uma dessas atividades que preenchem meu tempo: capturar momentos por meio das lentes. Hoje, quero falar sobre outra paixão que carrego comigo e que sempre esteve presente, de uma forma ou de outra. Aprender sobre sabores, descobrir como transformar ingredientes em algo especial, foi algo que cresceu comigo. Tudo começou lá atrás, na cozinha da minha mãe, Angélica, que fazia questão de envolver a família nesse universo mágico. Aos poucos, o que era um simples auxílio virou autonomia, e a mesa se enchia de pratos que, embora simples, carregavam aquele tempero que só ela sabia dar. Mais tarde, percebi que essa conexão ia além dela. Bisavós e avós, cada um à sua maneira, contribuíram com receitas que traziam histórias de outros tempos e lugares. Do feijão bem temperado que meu avô, Sr. José Carlos, ensinava, ao arroz com guisado da minha avó, Sra. Maria Alice, passando pela sopa cremosa e acolhedora que vinha do lado paterno, preparada por minha avó, Sra. Edite Elvira, cada preparo tinha um toque único. Até mesmo o antigo caderno de receitas, escrito em alemão pela minha bisavó, Sra. Bárbara, e por sua filha, minha tia-avó Sra. Olinda, guarda um pedaço dessa herança que tive a sorte de revisitar. Os anos de estudo trouxeram outros desafios, mas o hábito de preparar algo com as próprias mãos nunca me abandonou. Entre pratos rápidos e soluções práticas, fui me virando, até que a rotina mais estável permitiu explorar de verdade essa paixão. Descobri o prazer de seguir receitas tradicionais e, ao mesmo tempo, experimentar novidades. Livros clássicos, como o da Dona Benta, foram meus guias nessa jornada. A cada viagem, o paladar ganhava novos horizontes. Conheci combinações, aromas e técnicas que abriram caminhos para explorar ainda mais. Essa curiosidade me levou a buscar aprendizado formal, e foi assim que mergulhei no mundo acadêmico da culinária. Foram anos intensos, de muito aprendizado, com mestres que transformaram minha forma de enxergar essa arte. Tive a honra de aprender com chefs incríveis, como Armando (@armando.martinello), Érika (@erikkasalles), Maria Regina (@reginamartinazzo), Simone (@simone_cervini), entre outros grandes profissionais da nossa região. Nesse período, já havia tomado uma decisão importante sobre minha alimentação, e o que aprendi me deu forças para consolidar essa escolha. Descobrir novas formas de criar, sem renunciar a sabores e texturas, foi um processo transformador. Hoje, quando encontro tempo para estar na cozinha, sinto que é mais do que uma prática: é uma conexão com o que sou e com aqueles que vieram antes de mim. Imagino, às vezes, o que passava pela mente de quem me antecedeu nesses momentos tão simples e, ao mesmo tempo, tão grandiosos. Preparar algo para quem se ama é uma forma de transmitir cuidado, emoção e até um pouco de quem somos. Essa mistura de ingredientes, histórias e memórias cria algo que vai além do prato. Em uma dessas noites, enquanto olhava o que tinha disponível, decidi improvisar. O resultado foi um creme de repolho roxo com peras, que trouxe um sabor inesperado e foi muito bem recebido. Compartilhei a receita e a imagem dessa criação lá no blog, como uma forma de eternizar um momento tão simples, mas cheio de significado. Foi aprovada pelo chef @brunossouz4! Ter paixões que nos conectam a nós mesmos e aos outros é, sem dúvida, um dos grandes prazeres da vida. Seja em um prato, em uma foto ou em qualquer outro gesto, são esses instantes que constroem nossas melhores lembranças.



Ingredientes
½ repolho roxo médio picado
2 peras médias picadas em fatias ou cubos
1 colher de sopa de missô (usei o de grão de bico da Origem temperos, mas pode ser o de soja convencional)
1 cebola roxa
2 dentes de alho
3 colheres de sopa de azeite de oliva
1 litro de água fervida
1 colher de sopa de iogurte natural (ou kefir)
1 colher de chá de tarê
Sal e pimenta a gosto
Modo de preparo
No azeite, refogar bem a cebola e alho. Acrescentar o repolho e a pera. Mexer bem até desidratar um pouco (pelo menos uns 5 minutos). Acrescentar o missô diluído em meio copo de água quente. Mexer bem todos ingredientes. Acrescentar o restante da água fervida. Deixar cozinhar em fogo alto por uns 5 a 10 minutos. Esfriar. Bater no liquidificador até virar um creme. Recolocar na panela inicial, ajustar sal e pimenta. Mexer em fogo brando por mais 5 minutos. Servir no prato e decorar com o kefir e tarê (estes ingredientes além de decorar o prato fazem a diferença no sabor!) Servir com torradas.
Bom apetite e muita arte afetiva!









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