Controle da conversa mental ou Vritti e a relação com a qualidade de vida
- drmarcelomorenomkt
- 15 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Cada vez mais, especialidades médicas discutem práticas complementares em congressos científicos. Isso não é diferente na área da oncologia, incluindo ambas as subáreas em que atuo, nas quais a prática de Yoga, por exemplo, é inserida como uma indicação para a melhora da qualidade de vida durante e após o tratamento, seja ele cirúrgico ou sistêmico. Inúmeros trabalhos relacionam os efeitos benéficos dessa prática à oncologia. Sob o ponto de vista científico, por exemplo, estudos conduzidos na área da neurologia associam o momento de meditação, presente na prática de Yoga, a benefícios concretos. Essa meditação pode ocorrer devido à concentração necessária para realizar os exercícios de respiração (Pranayama – Pran + Ayama, que em Sânscrito significa "expansão da força vital") ou pela manutenção de posturas corporais (Asana, que em Devanágari, आसन, significa "posição sentada; assento; sentar-se", nomeando as diferentes posturas utilizadas no Yoga para suprimir a atividade intelectual). De forma resumida, uma prática corporal como o Yoga leva o indivíduo a se concentrar, deixando os pensamentos que surgem de forma contínua e muitas vezes "arboriformes" menos frequentes, ou até mesmo cessando, especialmente para aqueles que já praticam essas técnicas há algum tempo. Os pensamentos contínuos que ocupam nossa mente são denominados, em Sânscrito, como Chitta vritti, ou "conversa mental". "Vritti" pode ser entendido como "impulsos de pensamento inconstantes que desordenam a mente". "Chitta" refere-se, aqui, não apenas à mente, mas à própria fonte da consciência de uma pessoa. Para exemplificar, considere um lago silencioso. Quando jogamos uma pedra no lago, ondulações aparecem na superfície. Apenas quando paramos de lançar pedras, o lago retorna à sua calmaria, permitindo que vejamos seu fundo. Esse processo seria o equivalente ao "esvaziar da mente" – alcançar a clareza para conhecer o fundo do lago. Reduzir ou eliminar pensamentos também pode ser obtido por outras técnicas, como exercícios de concentração, subir uma montanha, ouvir o som das ondas do mar, ou até práticas religiosas como a repetição de orações, conforme descrito em trabalhos compilados no livro Anticâncer, de David Servan-Schreiber. Esse autocontrole do pensamento está diretamente ligado às melhorias na qualidade de vida observadas em estudos na área de oncologia. Com base nesses conceitos e em conversas com meus pacientes, iniciei a prática de Yoga há 10 anos e decidi escrever este texto para compartilhar minha experiência, que, por menor que seja, considero essencial para conduzir uma parte das consultas em que abordo a qualidade de vida durante o tratamento oncológico. Mesmo em 2024, tratamentos globais frequentemente geram sintomas que podem impactar vitaliciamente uma pessoa já fragilizada pelo diagnóstico da doença. Como costumo comentar, não há ser humano que saiba definir exatamente o objetivo e o segredo da vida, desde o nascimento até a morte – um fato que muitas vezes se torna evidente no momento do diagnóstico de doenças graves como o câncer. Práticas que ajudam a enfrentar a realidade sempre serão bem-vindas, desde que respeitem as formas de tratamento estabelecidas pelas evidências científicas.
Agradecimento a Profª Rosana Reginatto (@rosanareginatto) que de forma gentil me ajudou a estruturar os conceitos em Sânscrito utilizados neste texto.












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